Bi - Bismuto


Bismuto – Bi

O bismuto é um elemento relativamente raro (o 64° em abundância na crosta terrestre), porém grandes quantidades de bismuto são produzidas anualmente como subproduto do refino de cobre e estanho. Na natureza, o bismuto é encontrado principalmente nos minerais bismutinita (Bi2S3) e bismita (Bi2O3). Na forma nativa, ocorre em pequenas quantidades associado aos minérios de prata, zinco e chumbo. Uma fonte comercial do elemento é o Bi2O3 obtido a partir das poeiras de exaustão provenientes da calcinação de sulfetos de chumbo, zinco e cobre que, posteriormente, é reduzido com carbono. Apesar de seu status de metal pesado, o bismuto é considerado seguro, já que não é carcinogênico e sua toxidez é aceitável. Trata-se de um acentuado contraste em relação aos elementos localizados próximos a ele na tabela como arsênio, chumbo e estanho que são altamente tóxicos e sua utilização representa riscos ambientais (ZATERKA, 2000).
O bismuto tem dois estados de oxidação principais: bismuto (III), com raio iônico de 1,03 Å e 1,17 Å para número de coordenação (NC) 6 e 8 respectivamente, e bismuto (V) com raio iônico de 0,76 Å para NC igual a 6. A forma trivalente é a mais comum e a mais estável, enquanto que a forma pentavalente é um poderoso oxidante em soluções aquosas (MEHRING, 2007).
Bismuto (III) hidrolisa facilmente em soluções aquosas (pKa = 1,51) e tem alta afinidade de ligação com nitrogênio e oxigênio; no entanto tem maior afinidade de coordenação com grupos tiolatos (-SR).  Compostos de bismuto vêm sendo usados na medicina há mais de dois séculos. O primeiro relato foi em 1786, por Louis Odier no tratamento de dispepsia. Baseados nos estudos acerca deste elemento, vários compostos de bismuto foram sintetizados e alguns já são usados em tratamentos clínicos. Compostos deste metal foram utilizados no tratamento de várias infecções, como sífilis, colite, no tratamento de feridas, malária, dispepsia, diarréia e úlceras pépticas. Dentre as atividades farmacológicas do bismuto, duas têm sido alvo de vários estudos: as atividades antimicrobiana e antitumoral (DITTES, et al., 1997).
O uso mais importante desses compostos é, no entanto, no tratamento de doenças do trato gastrointestinal relacionadas à bactéria Helicobater pilory (H. pilory). Atualmente três compostos de bismuto são usados internacionalmente no tratamento de distúrbios gástricos: o subsalicitado de bismuto, o subscitrato de bismuto coloidal e o citrato de bismuto/ranitidina (MALFERTHEINER, et al., 2007).
Existem controvérsias acerca da estrutura exata dos sais de bismuto empregados no tratamento clínico. De forma geral, esses compostos se apresentam como estruturas poliméricas, sendo que várias formulações já foram propostas. O mecanismo de ação dos complexos de bismuto(III) também não foi completamente elucidado. Um dos mecanismos propostos é que os sais de bismuto formam uma camada protetora impedindo assim que as bactérias entrem em contato com a mucosa intestinal. No entanto, estudos indicam que o bismuto é capaz de interagir com enzimas tais como álcool desidrogenase e urease, interferindo no processo de colonização da mucosa gastrointestinal pela H. pilory (LI, et al., 2003).
A aplicação de compostos de bismuto na terapia do câncer também vem sendo estudada. A principal delas se baseia na habilidade desses compostos de reduzir os efeitos colaterais de drogas antitumorais como a cisplatina, por exemplo, sem interferir na atividade do fármaco. Estudos mostraram que a administração de subnitrato de bismuto é capaz de reduzir os efeitos colaterais da cisplatina (HASSFJELL et al., 2001)
. Além do uso como coadjuvante na quimioterapia do câncer o emprego de compostos de bismuto na radioterapia tem sido alvo de investigações. 212Bi (t1/2 = 61min) e 213Bi (t1/2 =46min) são radionuclídeos emissores de particulas-α capazes transferir energia de forma linear com mais eficiência do que emissores de partículas-β como 90Y por exemplo. Uma grande vantagem é que 212Bi e 213Bi têm uma penetração curta no tecido (50-80 μm) o que poderia reduzir a incidência de radiação nos tecidos adjacente ao tumor. Estudos recentes sugerem o potencial uso de 212Bi como agente radioterapêutico para tumores de pequeno volume (NIKULA, et al., 1999).

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